O BEST-SELLER MAIS SURPREENDENTE do último ano foi “Stalingrado”, do mesmo autor. Obviamente para aproveitar essa fama, seus editores relançaram este livro, publicado originalmente em 1982. Como você deve imaginar, o livro fala principalmente sobre a história da Revolução Espanhola.

Mas é uma quebra muito bem-vinda do padrão convencional de histórias militares sobre a Revolução Espanhola. Histórias que, geralmente, falham em discutir a revolução que ocorria dentro da guerra civil, os milhares de coletivos ou o papel dos anarquistas. Se mencionados, são geralmente apresentados como uma obstrução para uma eficiente demanda de guerra, por parte dos militares republicanos.

A visão de Beevan é diferente e inovadora. Ele entende que muito do que fez a Guerra Civil Espanhola um acontecimento único, de um ponto de vista militar, foi a revolução que havia se instalado. No entanto, ao invés de ignorar os anarquistas ou tratá-los como um pequeno incômodo, ele os coloca no seu lugar de respeito, no centro da história. Assim, o primeiro terço do livro se concentra na política da Espanha da época, tanto antes como durante os primeiros meses da guerra. Beevan demonstra um entendimento surpreendente do anarquismo, de fato eu discordo de muito pouco da sua explicação do anarquismo, e o autor se estende muito além da Espanha, citando o revolucionário italiano Errico Malatesta e referenciando os Makhnovistas ucranianos.

Os Primórdios

Sua discussão sobre os primeiros dias da revolução, a formação e o papel das milícias, é excelente. Ele atribui corretamente as ações das organizações de trabalhadores e, em particular, a CNT anarquista, como a causa da derrota de Franco em metade da Espanha. Enquanto o governo pleiteava com os generais rebeldes e se recusava a lançar forças armadas contra os trabalhadores, a CNT invadiu lojas de armas, assaltou paióis de armas e então lutou e venceu o exército. Ele evidencia o fato de que, nas áreas que Franco tomou posse, ele o fez precisamente porque as organizações de trabalhadores locais confiaram no governo para controlar o exército ou se recusaram a pegar em armas.

Em uma pequena resenha como esta, não há espaço para discutir todas as partes fundamentais desse livro, mas não posso deixar de mencionar seu debate sobre as milícias e o exército convencional. Enquanto mantem a crítica geral das milícias como indisciplinadas, ele afirma que a falta de disciplina era inevitável, por causa de sua rápida formação, e era algo que os anarquistas buscaram tratar. As milícias eram capazes de combates heroicos e disciplinados, por exemplo na fronteira de Irún, onde lutaram contra o avanço fascista até a última bala. As duas maiores batalhas convencionais da guerra foram de atuação de regimentos anarquistas no exército.

Como também indica o autor, o Partido Comunista Espanhol se aproveitou do fato de a Rússia ser, na época, a única fornecedora de armas da República, para negar armamento às milícias anarquistas. O livro se mostra bastante consistente nesse ponto, pois o relato militar da guerra indica ser impossível montar operações ofensivas com suprimentos severamente limitados, frente a um inimigo bem entrincheirado e treinado que contava com enorme superioridade em artilharia e poder aéreo.

Ele também fala sobre o exército convencional e a Brigada Internacional. O Partido Comunista dominou ambos e é possível ver métodos de comando similares àqueles utilizados por Trotsky durante a Guerra Civil Russa. A ênfase maior era na obediência cega, com execuções frequentes daqueles que resistissem. Aparentemente, algumas divisões da Brigada Internacional chegaram a ter até 10% de seus membros executados. Mas para além disso, o autor também destaca o fracasso completo das ofensivas montadas pelo exército convencional.

Leões liderados por burros?

Esse capítulo é, talvez, o mais interessante. A estratégia do exército dominado pelos comunistas era dos já conhecidos ataques de massa, nos quais as melhores divisões e equipamentos se concentravam contra um grupo relativamente pequeno de fascistas. Estratégia esta que foi bruscamente interrompida, pois Franco passou a concentrar enormes quantidades de artilharia e poder aéreo em sua defesa. Mas, por serem operações importantes para o Partido Comunista, as ofensivas continuaram, frequentemente envolvendo ataques suicidas, como aqueles da Primeira Guerra Mundial, onde grandes quantidades de homens e equipamentos foram sacrificados em nome de um avanço de poucos metros sem nenhum valor estratégico real.

Há muito mais elementos de valor para os anarquistas neste livro, em particular as revelações do autor de como o governo britânico realmente ajudou Franco. Ele também esboça uma estratégia alternativa de como lutar numa guerra, baseada em utilizar métodos militares convencionais de defesa, mas atacar com ofensivas de guerrilha de grande escala. Também há uma discussão sobre o papel dos republicanos espanhóis na resistência francesa durante a Segunda Guerra, e os combates de guerrilha conduzidos contra Franco até o início dos anos sessenta. É um livro que vale muito a pena comprar!

Tradução do inglês ao português por: Nino Caetano

Revisão: Rafael V. da Silva

Edição final: ITHA