CNT-FAI. Agrupamento de Trabalhadores Os Amigos de Durruti

Manifesto distribuído em 8 de maio de 1937

A provocação da contra-revolução

O assalto a Telefônica foi o toque de clarim das forças contra-revolucionárias. Foi o começo de um ataque de fundo contra a classe trabalhadora.

A encruzilhada histórica que assinalamos de uma maneira clara e rotunda desde dias atrás, acaba de surgir na superfície catalã com traços de tragédia. No dia 03 de maio se consumou a agressão dos partidos pequeno-burgueses, e das forças da ordem pública, que sentindo-se impotentes diante o avanço das forças revolucionárias se dispuseram a afogar em sangue nossos justos anseios e de um conteúdo altamente humano.

Não nos equivocamos, quando dizíamos no ato público celebrado pelos “Amigos de Durruti” no teatro Goya, às vésperas da batalha entabulada, que a agressão contra os trabalhadores ia produzir em ato contínuo. E assinalamos que o enterro de Roldán Cortada, a sublevação dos carabineiros em Ripoll, e outras provocações registradas, constituíam diversos elos de uma cadeia que estava se forjando nos próprios centros oficiais onde residem os representantes dos setores apelidados de antifascistas no terreno dos denominativos.

Nesta provocação interviu em primeiro lugar o PSUC, Estat Català, Esquerra Republicana, Partido Socialista Unificado da Cataluña e os corpos armados que estavam à serviço da Generalidad. Todas estas forças contavam com o apoio oficioso, para não dizer oficial, da Generalidad da Cataluña e do Governo de Valencia.

O proletariado na rua

À agressão da Telefônica, encabeçada pelo próprio Rodríguez Salas, respondeu de maneira unânime o proletariado personificando-se na rua com arma no braço. Quatro dias durou a luta, batendo-se os trabalhadores com uma bravura inenarrável. O sangue tingiu, de novo, a calçada das ruas.
Revalorizamos aqueles dias memoráveis das Jornadas de Julho. Ganhamos a rua, que não queremos ceder por ser nossa e por have-la conquistado na luta franca e decidida.

O atual movimento

Foi afirmado que as Jornadas de Julho foram uma resposta à provocação fascista, mas os “Amigos de Durruti” sustentaram publicamente que a essência dos dias memoráveis de Julho radicava nos anseios absolutos de emancipação do proletariado.

Nos encontramos num caso idêntico

Nas atuais jornadas de Maio, apesar de haver existido uma provocação não saímos à rua, tão somente, para pedir o desarme dos corpos armados mas que queremos que o sangue que se derramou encontre a devida compensação.

Estamos vivendo um instante de superação de uma etapa pequeno-burguesa. O combate travado pelo proletariado catalão se polariza num desejo de avanço que há de consistir na formação de um predomínio operário, cem por cento.

Nossa Agrupação que estava na rua, nas barricadas, defendendo as conquistas do proletariado propugna pelo triunfo total da revolução social. Não podemos aceitar a ficção, e o fato contrarrevolucionário, de constituir um novo governo com os mesmos partidos, mas com distintos representantes. Isto é um engano de tal calibre que não chegamos a compreender como os comitês da CNT, e algum comitê da FAI se prestaram a realização de tal vilania.

Nossa Agrupação exige a constituição imediata de uma junta revolucionária, o fuzilamento dos culpados, o desarme dos corpos armados, a socialização da economia e a dissolução de todos os partidos políticos que agrediram a classe trabalhadora.

A Generalidad não representa nada. Sua continuação fortifica a contrarrevolução. Nós ganhamos a batalha, os trabalhadores. É inconcebível que os comitês da CNT tenham atuado com tal timidez que chegam a ordenar “parem os disparos” e que inclusive tenham imposto a volta ao trabalho quando estávamos nos limites imediatos da vitória total. Não se teve em conta de onde partiu a agressão, não se prestou atenção ao verdadeiro significado das jornadas. Tal conduta há de se qualificar de traição a revolução que ninguém em nome de nada deve cometer nem patrocinar. E não sabemos como qualificar o labor nefasto que realizou Solidaridad Obrera e os militantes mais destacados da CNT.

O comitê regional da CNT nos desautoriza

Não nos tem surpreendido a desautorização dos chamados comitês responsáveis da CNT. Sabíamos de antemão, que estes comitês não podiam fazer outra coisa que entorpecer o avanço do proletariado. Conhecemos amplamente os TRINTISTAS que estão no comitê Regional.

Somos os “Amigos de Durruti” aqueles que temos a autoridade moral suficiente para desautorizar estes indivíduos que traíram a revolução e a classe trabalhadora, como incapazes e covardes. Quando não temos inimigo adiante, entregam de novo o poder a Companys e a pequena-burguesa e, além disso, entregam a Ordem Pública ao governo contrarrevolucionário de Valencia e o conselho de Defesa ao general Pozas.

A traição é de um volume enorme. As duas garantias essenciais da classe trabalhadora, segurança e defesa, são oferecidas de bandeja a nossos inimigo.

O que fazer?

Apesar da trégua acordada o espírito das jornadas que acabamos de viver continua de pé. Foi cometido o erro grandioso de dar tempo ao adversário reforçar suas posições. Foi possibilitado que o governo de Valencia mande forças à contrarrevolução.

Não se soube atacar a fundo nem existiu uma coordenação de esforços no terreno insurrecional. Se perdeu tempo e as munições com simples parcelas, em vez de planejar um ataque rápido e audaz. Faltou inteligência e direção.

Parar a luta não pressupõe uma derrota. Embora não tenhamos caído em cima de nossos objetivos aumentamos nosso armamento.

Não iremos entregar as armas conquistadas a contrarrevolução. São da classe trabalhadora. Subsiste o perigo de nossos inimigos que mantém suas posições e que possuem, todavia, abundante armamento. Estejamos atentos aos acontecimentos que se avizinham. Não desvanecemos. Mantenhamos uma sólida moral revolucionária. Não esquecemos que não estamos jogando uma carta decisiva. Não nos deixemos alucinar pelo suposto perigo de uma agressão dos barcos da esquadra inglesa quando na realidade as potências democráticas estão apoiando o fascismo de uma maneira descarada.

Saibamos interpretar o momento atual. Nossos adversários pretendiam destruir o proletariado revolucionário para assentar as premissas de um armistício patrocinado pelos governos inglês e francês, e ao mesmo tempo para assegurar um predomínio do capital no perímetro da Espanha proletária.

Não abandonemos a rua. Mantenhamos o espírito indomável que caracterizou Durruti na rua, nos locais de trabalho, e onde nos encontremos, e mantenhamo-nos prestativos para terminar a grandiosa obra iniciadas nessas memoráveis jornadas que estiveram saturadas de espírito dos camaradas da FRENTE que fez sentir sua irada voz contra os agiotas, contra a burocracia voraz e contra as desigualdades e os boatos que ainda perduram apesar de ter se derramado sangue em torrentes.

CAMARADAS: Em pé de guerra. Não desfaleçais. Estejam atentos à primeira convocação que se faça.

Viva a revolução social! Abaixo a contrarrevolução!

Vivam os camaradas caídos

Tradução ao Português: Rafael V. da Silva (Instituto de Teoria e História Anarquista)

N.T: O texto foi traduzido do espanhol ao português. O texto foi selecionado pelo historiador Augustin Guillamón. Decidiu-se na atual tradução, remover as notas (comentários) deste pesquisador, preservando a fonte em seu estado ORIGINAL.