Wayne Price. “A Conferência dos Nacional-Anarquistas”

A CONFERÊNCIA DOS NACIONAL-ANARQUISTAS

Os fascistas que chamam a si mesmos de “anarquistas”

Wayne Price

 

Vocês me perguntaram quem são essas pessoas, enviando-me um relato de um encontro internacional do “Movimento Nacional Anarquista” na Espanha este ano. A resposta curta é que eles são fascistas, e não mais “anarquistas” do que os nacional-socialistas eram “socialistas“. No entanto, eles negam ser fascistas, e o artigo diz repetidamente que eles não são fascistas, muito menos nazistas. O artigo foi escrito por um certo Keith Preston, que afirmou estar tentando reunir o libertarianismo de esquerda e direita, anarco-comunismo e nacionalismo-anarquismo.

Os nazistas denunciaram o capitalismo e os grandes negócios (especialmente sua “ala esquerda” que estupidamente acreditava nessa retórica, até que Hitler chegou ao poder e os matou). Portanto, esses pseudo-anarquistas denunciam o Estado, a classe dominante capitalista internacional, o imperialismo e o perigoso mau uso da tecnologia pelo capitalismo. Preston resume, “muito do que foi dito foi altamente relevante para as ideias da esquerda libertária e da direita libertária, bem como aquelas afiliadas à antiglobalização, causa ambiental, anti-imperialista, indígena, anti-estatal e movimentos anti-corporação em geral.”

Os NA propõe substituir o Estado centralizado e a sociedade de massas por comunidades mais ou menos autônomas. As comunidades irão se formar na base que quiserem, mas (surpresa!) o NA sugere forma-las com base na “etnia”. “O retorno avassalador, incontestável e generalizado de uma série de questões raciais é inegável (…) Comunidades nacional-anarquistas podem ser a resposta positiva para o problema. (…) neste contexto, gostaria de me concentrar na etnia”. Eles rejeitam o internacionalismo ou “universalismo“. Daí o termo “Nacional” Anarquistas.

Os pressupostos subjacentes aparecem na retórica anarquista. Um palestrante “integrou não apenas os pontos de vista pró-nacionais e pró-étnicos da direita em sua Weltanschauung“, mas também métodos de psicoterapia da esquerda (não exatamente equivalentes). Esta pessoa (Peter Topfer) decidiu “que não há nada de bom no humanismo“. Aparentemente, “o humanismo (…) apenas se torna uma arma do etnocentrismo e da supremacia judaica“. Ele pensa que “embora o islamismo seja uma ameaça (…) o etnocentrismo judeu (…) exerce uma influência muito maior“. Outro palestrante “sintetizou as ideias de Otto Strasser com as de Murray Bookchin”. Strasser era um nazista.

Outro palestrante apontou que os Estados democráticos capitalistas liberais são os mais comuns e mais aceitos no momento. Portanto, os nacional-anarquistas não devem se concentrar na defesa dos direitos democráticos do povo, mas “a luta anarquista no século XXI é essencialmente uma luta contra os estados parlamentares liberais”. Em nenhum momento essas NAs defendem a democracia, mesmo do tipo mais radical, direto e participativo.

Sean Jobst deu uma palestra chamada “Sionismo e Globalismo: Uma Ameaça para Todas as Comunidades”. “Podemos definir o sionismo como nacionalismo chauvinista judeu (…) uma ameaça global”. Jobst citou Bakunin como tendo feito um ataque antissemita a Marx em 1871, referindo-se à “nação parasita judaica“. Isso diz algo sobre Bakunin, assim como sobre Jobst, mas não muito sobre o anarquismo ou os judeus. Não vou passar por toda a racionalização que é oferecida. Preston não critica nenhuma das apresentações antissemitas que relata.

Com base na experiência histórica, esperamos que a “ideologia” fascista seja confusa, contraditória e irracional. Sem dúvida, muitos desses “Nacional Anarquistas” são sinceros desorganizados. Eles podem pensar que não são fascistas e se convenceram de que não querem oprimir as pessoas. Mas esse absurdo só pode servir para apoiar o estatismo capitalista em sua prática real – como fez o nacional-socialismo.

Eu sou bastante flexível em aceitar anarquistas que se autodenominam anarquistas: primitivistas, gradualistas, individualistas, anarquistas pró-mercado (mas anticapitalistas), etc. Eu argumento que eles estão errados em suas ideias e estratégia, mas não que eles não são “anarquistas”. Eles compartilham principalmente os mesmos objetivos que os anarquistas-socialistas da luta de classes revolucionária, que têm sido a corrente principal histórica do movimento. Mas eu traço o limite para os “anarquistas-capitalistas” (“libertários” de direita que se opõem ao Estado, mas apoiam o capitalismo). Eles não são anarquistas se aceitarem o capitalismo. Da mesma forma, as pessoas não são anarquistas se aceitarem o racismo, o antissemitismo e o nacionalismo, mesmo que finjam não ser fascistas.

13 de Julho de 2017

Fonte: http://anarkismo.net/article/30386
Traduzido por: Arthur Castro