Mistificando o Primitivo
Mistificando o Primitivo
Murray Bookchin
O corolário da antitecnologia e da anticivilização é o primitivismo, uma glorificação edênica da pré-história e o desejo de algum tipo de retorno à sua suposta inocência.[52] Anarquistas de estilo de vida como Bradford buscam inspiração nos povos aborígines e nos mitos de uma pré-história edênica. Os povos primitivos, diz ele, “recusavam a tecnologia” — “minimizavam a importância das técnicas instrumentais ou práticas e aumentavam a importância das […] técnicas extáticas”. Era assim, porque os povos aborígines, com suas crenças animistas, estavam cheios de “amor” pela vida animal e pela selva — para eles, “animais, plantas e objetos naturais” eram “pessoas, ou mesmo parentes” (CIB, p. 11).
Neste sentido, Bradford opõe-se à visão “oficial”, a qual sustenta que as vidas nas culturas pré-históricas dos coletores eram “terríveis, animalescas e nômades, envolvendo uma sangrenta luta pela existência”. Ele glorifica o “mundo primitivo”, considerando-o uma “próspera sociedade original”, conforme as palavras de Marshall Sahlins;
próspera, pois suas necessidades são poucas, todos seus desejos são facilmente realizáveis. Seu conjunto de ferramentas é elegante e leve, sua língua complexa e conceitualmente profunda, ainda que seja simples e acessível a todos. Sua cultura é expansiva e extática. Sem propriedade e comunal, igualitária e cooperativa […]. É anárquica, […] livre de trabalho […]. É uma sociedade dançante, uma sociedade cantante, uma sociedade festiva, uma sociedade sonhadora. [53]
Habitantes do “mundo primitivo”, de acordo com Bradford, viviam em harmonia com o mundo natural e desfrutavam de todos os benefícios da prosperidade, incluindo muito tempo de ócio. A sociedade primitiva, enfatiza ele, estava “livre do trabalho”, já que a caça e a colheita exigiam muito menos esforço do que as pessoas têm hoje com um dia de oito horas de trabalho. Ele reconhece que a sociedade primitiva era “capaz de experimentar eventualmente a fome”. Esta “fome”, no entanto, era sem dúvida simbólica e autoimposta, veja você, porque os povos primitivos “algumas vezes [escolhiam] a fome para aumentar a inter-relação, para brincar ou para ter visões” (CIB, p. 10).
Seria necessário um artigo inteiro para decodificar ou mesmo para contestar esse palavrório absurdo, no qual algumas poucas verdades estão misturadas com fantasias ou encobertas por elas. Bradford baseia sua opinião, até onde sei, em um “grande acesso às posições dos povos primitivos e de seus descendentes nativos”, produzido por “uma antropologia […] mais crítica” (CIB, p. 10). Na realidade, muito desta “antropologia crítica” parece derivar das ideias propostas no simpósio Man the Hunter, realizado em abril de 1966, na Universidade de Chicago.[54] Apesar do imenso valor de muitos dos papers escritos para este simpósio, alguns deles sustentavam uma ingênua mistificação do “primitivismo”, que foi influente durante a contracultura dos anos 1960 — e que se estende até hoje. A cultura hippie, que influenciou diversos antropólogos da época, comprovava que povos caçadores-coletores daquela época vinham sendo ignorados pelas forças econômicas e sociais vigentes no resto do mundo, e continuavam vivendo em estado de pureza, como remanescentes isolados do modo de vida do Neolítico e do Paleolítico. Além disso, como caçadores-coletores, suas vidas eram saudáveis e calmas; viviam como que em uma ampla e natural dádiva.
Richard B. Lee, co-editor das conferências, considerava que o consumo calórico dos povos primitivos era bastante alto e seu estoque de alimentos abundante, sustentando um tipo de “prosperidade” virginal, na qual as pessoas tinham necessidade de buscar alimentos apenas algumas horas por dia. “A vida em estado de natureza não é necessariamente desagradável, brutal e curta”, escreveu Lee. O habitat dos aborígines Kung do deserto do Kalahari, por exemplo, “é abundante em comidas que são encontradas naturalmente”. Os aborígines de Dobe, que, segundo ele, estavam ainda nos umbrais do Neolítico
vivem bem hoje, das plantas silvestres e da carne, apesar de estarem reduzidos às áreas menos produtivas, considerando os locais onde os povos aborígines eram outrora encontrados. É provável que um fundamento de subsistência, ainda mais substancial, tenha sido característico desses caçadores-coletores no passado, quando eles tinham os melhores habitats da África para escolher. [55]
Não é assim! Conforme veremos brevemente.
É muito comum entre aqueles que divagam sobre a “vida primitiva” misturar milênios de pré-história, como se espécies humanas e hominídeos significativamente distintos tivessem vivido em um mesmo tipo de organização social. A palavra pré-história é profundamente ambígua. Visto que o gênero humano incluía diversas espécies diferentes, dificilmente podemos comparar a “perspectiva” dos forrageadores aurignacianos e magdalenianos (Homo sapiens sapiens) de uns trinta mil anos atrás, com a do Homo sapiens neanderthalensis ou mesmo do Homo erectus, cujo conjunto de ferramentas, habilidades artísticas e capacidade de fala era muito diferente.
Outro importante aspecto é saber em que medida os caçadores-coletores pré-históricos ou forrageadores, nas várias épocas, viveram em sociedades não hierárquicas. Se os sepultamentos em Sungir (na contemporânea Europa do Leste), uns 25 mil anos atrás, permitem qualquer especulação (e não há um povo paleolítico próximo que possa nos falar sobre sua vida), a coleção extraordinariamente rica de joias, lanças, armas de marfim e roupas enfeitadas encontradas nos túmulos de dois adolescentes sugerem a existência de linhagens familiares de status elevado, bem antes dos seres humanos cultivarem alimentos. A maioria das culturas do Paleolítico era, provavelmente, mais ou menos igualitária, mas a hierarquia parece ter existido até mesmo no final do Paleolítico, com marcadas variações de grau, de tipo e de escopo de dominação — o que não permite elogiar o igualitarismo paleolítico.
Um outro aspecto que surge é a variação — nos primeiros casos, a ausência — da habilidade comunicativa nas diferentes épocas. Apesar da linguagem escrita só aparecer mais tarde, nos tempos históricos, as línguas do antigo Homo sapiens sapiens eram “profundas conceitualmente”. Os pictogramas, os hieróglifos e, sobretudo, o material memorizado sobre o qual povos “primitivos” baseavam seu conhecimento do passado possui óbvias limitações culturais. Sem uma literatura escrita, que registre o saber cumulativo de diferentes gerações, a memória histórica, independente dos pensamentos “profundos conceitualmente”, é difícil ser mantida; perde-se no tempo ou sofre distorções.
Por impossibilitar uma crítica exigente, a história oral torna-se, com facilidade, uma ferramenta para “videntes” da elite e xamãs que, longe de serem “protopoetas”, como Bradford os chama, parecem usar seu “conhecimento” para servir a seus próprios interesses sociais. [56]
Fato que nos leva, inevitavelmente, a John Zerzan, o primitivista anticivilização por excelência. Para Zerzan, um dos principais nomes de Anarchy: A Journal of Desire Armed, a ausência de fala, de língua e de escrita é uma vantagem. Outro contemporâneo do Man the Hunter, Zerzan sustenta em seu livro Futuro primitivo (FP), que “a vida antes da domesticação/agricultura foi, em grande medida, uma vida de prazeres, de intimidade com a natureza, de sabedoria sensual, de igualdade sexual e de saúde”[57] — com a diferença de que a visão de Zerzan da “primalidade” aproxima-se mais de uma animalidade quadrúpede. Na verdade, na paleoantropologia zerzaniana, as distinções anatômicas entre o Homo sapiens de um lado, e o Homo habilis, o Homo erectus e os “malditos” Neandertais de outro, são dúbias; todas as primeiras espécies de Homo, segundo ele, possuíam as mesmas capacidades mentais e físicas do Homo sapiens e, além disso, viveram num paraíso primal por mais de dois milhões de anos.
Se esses hominídeos fossem tão inteligentes quanto os humanos modernos, poderíamos ingenuamente perguntar, por que eles não realizaram transformações tecnológicas. “Parece- -me bastante plausível”, conjectura brilhantemente Zerzan,
que a inteligência, baseada no sucesso e na satisfação de uma existência de coletor-caçador, é o próprio motivo da clara ausência de “progresso”. Divisão de trabalho, domesticação, cultura simbólica — foram evidentemente[!] recusadas até muito recentemente.
A espécie Homo “há muito tempo escolheu a natureza em vez da cultura”, e com cultura, aqui, Zerzan quer dizer “a manipulação das formas simbólicas mais básicas” (grifos meus) — um estorvo alienante. De fato, continua ele,
o tempo reificado, a língua (escrita, por certo, e provavelmente falada durante todo ou quase todo esse período), os números e a arte não existiam, apesar de uma inteligência totalmente capaz de criá-los. [58]
Em suma, hominídeos com capacidades de fala, de escrita e simbólica, deliberadamente não as desenvolveu, uma vez que podiam entender uns aos outros e seu próprio meio pelos instintos, sem precisar recorrer a esses recursos. Assim, Zerzan concorda completamente com um antropólogo que pondera o seguinte: “A comunhão dos San (aborígines) com a natureza” atingiu “um nível de experiência que se poderia ‘praticamente chamar de místico. Por exemplo, eles pareciam saber como era sentir-se um elefante, um leão, um antílope’”, até mesmo um baobá (FP, pp. 33–34).
A “decisão” consciente de recusar a língua, as ferramentas sofisticadas, a temporalidade e a divisão do trabalho (é provável que eles tenham pensado nisso e rosnado: “Bah!”) foi tomada, ainda segundo Zerzan, pelo Homo habilis, que, devo ressaltar, tinha menos da metade do tamanho do cérebro dos humanos modernos e provavelmente não tinha a capacidade anatômica nem para articular sílabas. No entanto, sabemos, por meio da autoridade suprema de Zerzan, que os habilis (e possivelmente até o Australopithecus afarensis, que esteve por aí há uns “dois milhões de anos”) possuíam “uma inteligência plenamente capaz” — nada menos! — para desempenhar tais funções, mas se recusaram a isso. Segundo a paleoantropologia zerzaniana, os primeiros hominídeos ou humanos podiam adotar ou recusar traços culturais vitais como a fala, valendo-se de uma sabedoria sublime, como monges que fazem voto de silêncio.
Porém, assim que o voto de silêncio foi rompido, tudo deu errado! Por razões que só Deus e Zerzan conhecem,
a emergência da cultura simbólica, com sua vontade inerente de manipular e controlar, logo abriu as portas para a domesticação da natureza. Depois de dois milhões de anos de vida humana nos limites da natureza, em comparação com outras espécies selvagens, a agricultura alterou nosso estilo de vida, nossa forma de adaptação, de maneira nunca antes vista. Jamais houve uma transformação tão radical, tão definitiva e rápida, de uma espécie. A autodomesticação por meio da linguagem, do ritual e da arte inspirou o controle das plantas e dos animais, que veio em seguida. [59]
Há um certo esplendor nessa armadilha que é cativante. Épocas muito diferentes, hominídeos e/ou espécies humanas e situações ecológicas e tecnológicas; tudo isso é misturado numa vida compartilhada “dentro dos limites da natureza”. A simplificação feita por Zerzan da dialética muito complexa entre humanos e não humanos revela uma mentalidade tão reducionista e simplista que deixa qualquer um pasmo e perplexo.
É certo que há muito o que aprender com as culturas pré-literárias — sociedades orgânicas, como eu as chamo em The Ecology of Freedom —, especialmente sobre a mutabilidade do que se costuma chamar de “natureza humana”. Seu espírito de cooperação grupal e, às vezes, até sua visão igualitária, são admiráveis — e socialmente necessários, tendo em vista o mundo precário em que viviam —, e fornecem provas claras da maleabilidade do comportamento humano, que contrapõe o mito de que a competitividade e a ganância são atributos humanos inatos. Realmente, suas práticas de usufruto e a desigualdade dos iguais são de grande relevância para uma sociedade ecológica.
No entanto, dizer que povos “primais” ou pré-históricos “reverenciavam” a natureza não humana é, no mínimo, enganoso, e, no máximo, completamente insincero. Na ausência de ambientes “não naturais” como aldeias, vilas e cidades, a própria noção de “natureza”, como algo diferente de habitat, precisa ainda ser conceituada — uma experiência alienante, na visão de Zerzan. Tampouco é provável que nossos ancestrais remotos vissem o mundo natural de maneira menos instrumental que os povos das culturas históricas. Considerando seus próprios interesses materiais — sobrevivência e bem-estar —, os povos pré-históricos aparentemente caçavam o quanto podiam, e, se em imaginação povoavam o mundo animal de atributos antropomórficos, como com certeza faziam, era no intuito de comunicar-se com os animais para manipulá-los e não para simplesmente reverenciá-los.
Com esses fins instrumentais em mente, esses povos evocavam animais “falantes”, “tribos” de animais (muitas vezes segundo o padrão das próprias estruturas sociais) e “espíritos” animais capazes de interação. É compreensível que, dada a limitação de seu conhecimento, eles acreditassem na realidade dos sonhos, na qual humanos poderiam voar e os animais poderiam falar — um mundo de sonhos inexplicável e muitas vezes assustador, o qual tomavam como realidade. Para controlar animais de caça, usar o habitat para sobrevivência, lidar com as vicissitudes do clima e outros elementos, os povos pré- -históricos tiveram de personificar esses fenômenos e “falar” com eles, direta, ritualística ou metaforicamente.
Aparentemente, os povos pré-históricos intervieram com a maior resolução possível em seu ambiente. Quando o Homo erectus ou outras espécies posteriores aprenderam a usar o fogo, por exemplo, devem ter incendiado florestas, provavelmente encurralaram animais de caça em penhascos ou em emboscadas naturais, onde podiam melhor abatê-los. A “reverência pela vida” dos povos pré-históricos reflete, dessa maneira, uma preocupação muito pragmática de melhoria e de controle da alimentação, e não de um amor pelos animais, pelas florestas e montanhas (as quais eles deviam temer, imaginando que fossem a morada das divindades, tanto das demoníacas quanto das benignas). [60]
O “amor à natureza” que Bradford atribui à “sociedade primal” tampouco descreve com precisão os povos nômades coletores de hoje em dia, que muitas vezes lidam de forma bastante brusca com seus animais de carga e de caça; os pigmeus da floresta de Ituri, por exemplo, torturam suas presas com altas doses de sadismo, e entre os esquimós são comuns os maus-tratos contra huskies.[61] Quanto aos americanos nativos que viviam nestas terras antes do contato com os europeus, eles alteraram profundamente o continente usando o fogo, com o objetivo limpar o terreno para suas hortas e possibilitar melhor visibilidade para as caçadas, a ponto de o “paraíso” encontrado pelos europeus ter sido “claramente humanizado”. [62]
Muitas tribos indígenas parecem ter exaurido os animais de caça, tendo de migrar para novos territórios visando obter os meios de vida material. Seria realmente surpreendente se elas não tivessem entrado em guerra para expulsar aqueles que, originalmente, ocupavam esses territórios. Seus ancestrais remotos podem muito bem ter contribuído com a extinção de alguns dos maiores mamíferos da América do Norte da última era glacial (em especial mamutes, mastodontes, bisões, cavalos e camelos). Pilhas espessas de ossos de bisão são visíveis em alguns locais, sugerindo que houve assassinatos em massa e “filas” para o abate, em diversos arroios americanos. [63]
Entre os povos que praticavam a agricultura, a terra não era necessariamente usada de maneira ecologicamente correta. Ao redor do lago Pátzcuaro, no planalto central mexicano, antes da conquista espanhola, “o manejo da terra na pré-história não era conservacionista na prática”, escreve Karl W. Butzer, causando altos índices de erosão do solo. Na realidade, as práticas agrícolas aborígines “podiam ser tão nocivas quanto qualquer utilização pré-industrial da terra no Velho Mundo”. [64] Outros estudos mostram que a destruição excessiva de florestas e o fracasso da agricultura de subsistência exauriu a sociedade maia e contribuiu para o seu colapso. [65]
Jamais teremos como saber se os modos de vida dos povos nômades coletores de hoje em dia refletem com precisão os modos de vida do passado ancestral.[66] As culturas aborígines modernas desenvolveram-se ao longo de milhares de anos e transformaram-se significativamente pelos inúmeros contatos com outras culturas, antes de terem sido estudadas pelos pesquisadores ocidentais. De fato, como observou acidamente Clifford Geertz, existe pouca, se é que existe alguma, pureza nas culturas aborígines que os modernos primitivistas associam à primeira humanidade. “A percepção de que [a pureza primal dos aborígines atuais] não era exatamente assim foi dolorosa e tardia; nem entre os pigmeus e nem entre os esquimós”, observa Geertz,
sendo que esses povos são, na verdade, produtos de processos de transformações sociais de larga escala, responsáveis por fazer deles aquilo que eles são — fato que levou a uma espécie de choque e também a uma crise no campo da etnografia.[67]
Os grupos de povos “primais”, assim como as florestas habitadas por eles, não eram mais “virginais” no contato com os europeus do que os índios Lakota, na época da Guerra Civil Americana, independente do que sustenta Dança com lobos. Muitos dos tão estudados sistemas de crenças “primais” dos aborígines de hoje em dia remetem claramente às influências cristãs. Black Elk,[68] por exemplo, era um católico fervoroso[69] e a Dança fantasma dos paiutes e lakotas, do final do século XIX, era profundamente influenciada pelo milenarismo evangélico cristão.
Em pesquisas antropológicas sérias, a noção de um caçador puro, “extático”, não sobreviveu trinta anos, depois da publicação do simpósio Man the Hunter. A maioria das sociedades “prósperas de caçadores”, citadas pelos devotos do mito da “prosperidade primitiva”, literalmente evoluiu — muito provavelmente contra sua vontade — a partir de sistemas sociais da horticultura. O povo San do Kalahari, sabe-se hoje, era composto de jardineiros, que depois foram levados para viver no deserto. Centenas de anos atrás, de acordo com Edwin Wilmsen, os povos de língua San pastoreavam e cultivavam a terra, sem falar no comércio das terras dos chefes vizinhos agricultores, por meio de uma rede que se estendia até o Oceano Índico. Por volta do ano 1000, demonstram as escavações, sua área, Dobe, era habitada por povos que faziam cerâmica, trabalhavam o ferro, e criavam gado, exportando sua produção para a Europa, na década de 1840, junto com imensas quantidades de marfim — boa parte dele oriundo de elefantes caçados pelo próprio povo San que, sem dúvida, levava a cabo essas matanças de seus “irmãos” paquidermes com toda aquela sensibilidade que Zerzan atribui a ele. O nomadismo marginal do povo San, que tanto encantou as pessoas nos anos 1960 era, na verdade, resultado de mudanças econômicas do final do século XIX: “as raízes remotas imaginadas por observadores externos […] não eram nativas, e foram criadas pelo colapso do capital mercantil”.[70] Assim, “a atual situação dos povos de língua San, habitantes de uma faixa rural da economia africana”, indica Wilmsen,
pode ser compreendida apenas nos termos das políticas sociais e econômicas da era colonial e suas consequências. Seu surgimento como nômades coletores é uma decorrência desses povos terem sido relegados a uma classe inferior no processo histórico que se iniciou antes do segundo milênio e que culminou nas primeiras décadas do século XX. [71]
Os Yuquí da Amazônia, também, podem facilmente ter servido de exemplo para a sociedade pura de nômades coletores, enaltecida nos anos 1960. Ignorados pelos europeus até a década de 1950, estes povos dispunham de um conjunto de ferramentas que consistia em pouco mais do que uma mandíbula de porco do mato, arcos e flechas. “Além de não saberem fazer fogo”, escreve Allyn M. Stearman, que os estudou, “não possuíam embarcações, animais domésticos (nem mesmo cachorros), qualquer pedra ou especialista em rituais, contando apenas com uma cosmologia rudimentar. Viviam suas vidas como nômades, percorrendo as florestas das terras baixas da Bolívia em busca de caça e outros alimentos que conseguiam coletar.” [72] Não tinham roças e não eram familiarizados com o uso do anzol e da linha para a pesca.
No entanto, longe de serem igualitários, os Yuquí mantiveram a instituição da escravidão hereditária, dividindo sua sociedade entre uma elite privilegiada e um grupo de trabalhadores escravos desprestigiados. Tal aspecto hoje é visto como vestígio de um modo de vida que foi, outrora, hortícola. Os Yuquí, ao que parece, descendiam de uma sociedade pré-colombiana na qual havia escravidão, e
com o tempo, foram experimentando a aculturação, perdendo sua herança cultural, com a necessidade de permanecerem nômades e viverem da terra. Mas, embora muitos elementos de sua cultura tenham se perdido, outros resistiram. A escravidão, evidentemente, foi um desses elementos.[73]
Wilmsen e seus associados não só acabaram com o mito do coletor “puro”, mas colocaram em xeque os dados de Richard Lee sobre a ingestão calórica dos “prósperos” coletores.[74] O povo Kung tinha uma expectativa média de vida de cerca de trinta anos. A mortalidade infantil era alta e, de acordo com Wilmsen (calma, Bradford!), as pessoas eram acometidas por doenças e fome durante as secas. (O próprio Lee reviu suas posições sobre esse assunto depois dos anos 1960.)
Como era de se esperar, as vidas de nossos ancestrais eram tudo, menos um mar de rosas. Na verdade, a vida deles era bastante dura, em geral curta e muito difícil do ponto de vista material. Exames anatômicos sobre a longevidade mostram que quase a metade deles morria na infância ou antes dos vinte anos, e eram poucos os que viviam mais de cinquenta anos.[75] Eram mais necrófagos do que caçadores-coletores e provavelmente 101 foram vítimas de leopardos e hienas. [76]
Com os membros de seus bandos, tribos ou clãs, os povos pré-históricos e outros coletores posteriores eram geralmente cooperativos e pacíficos; mas com membros de outros bandos, tribos ou clãs, eles eram muitas vezes beligerantes, às vezes até genocidas, nas tentativas de expropriar os outros e apropriar-se de sua terra. O mais bem-aventurado de nossos ancestrais humanos (como querem os primitivistas), o Homo erectus, deixou para trás de si um rastro de matanças inter-humanas, segundo os dados colhidos por Paul Janssens.[77] Sugeriu-se que muitos indivíduos na China e em Java teriam sido mortos por erupções vulcânicas, mas essa explicação perde muito de sua plausibilidade diante dos restos de quarenta indivíduos encontrados, cujas cabeças com lesões fatais haviam sido decapitadas — “dificilmente obra de um vulcão”, observa Corine Shear Wood.[78] A propósito dos coletores nômades modernos, os conflitos entre tribos de nativos americanos são numerosos demais para citar — como testemunham os Anasazi e seus vizinhos do sudoeste, tribos que acabaram formando a Confederação dos Iroqueses (a própria sobrevivência da confederação já seria uma questão, se eles mesmos não tivessem exterminado uns aos outros), que quase levou ao extermínio e à fuga das últimas comunidades Huron.
Se os “desejos” dos povos pré-históricos “eram facilmente saciados”, como alega Bradford, isto se devia ao fato de suas condições materiais de vida — e, portanto, de seus desejos — serem realmente muito singelas. O mesmo se pode esperar de qualquer forma de vida que mais se adapta do que inova, que mais se conforma ao habitat do que o altera, para que ele que conforme as suas necessidades. Pode-se afirmar com segurança que os primeiros povos possuíam uma maravilhosa compreensão do habitat onde viviam; eram, afinal, seres bastante inteligentes e imaginativos. No entanto, sua cultura “extática” era muito marcada não só pela alegria de seus “cantos, […] celebrações, […] e sonhos”, mas também pela superstição e por temores facilmente manipuláveis.
Nossos remotos ancestrais e os aborígines atuais não poderiam ter sobrevivido se tivessem sido absorvidos pelas ideias das Disneylândias encantadas, sugeridas pelos atuais primitivistas. Com certeza, os europeus não ofereceram tratamentos sociais magníficos aos aborígines. Muito pelo contrário: os imperialistas submeteram os povos nativos à brutal exploração, ao franco genocídio, às doenças contra as quais não eram imunes e à desavergonhada pilhagem. Nenhum feitiço animista pode ou poderia ter evitado esse ataque, como no caso da tragédia de Wounded Knee, em 1890, quando o mito das camisas espirituais impenetráveis às balas foi dolorosamente desmentido.
Crucial é que a regressão do primitivismo dos anarquistas de estilo de vida nega o mais destacado atributo da humanidade enquanto espécie e os aspectos potencialmente emancipatórios da civilização euro-americana. Humanos são muito diferentes de outros animais, na medida em que fazem mais do que meramente adaptar-se ao mundo à sua volta; humanos inovam e criam um novo mundo, não só para descobrir seu próprio poder como seres humanos, mas para fazer o mundo ao seu redor mais adequado ao seu próprio desenvolvimento, tanto em termos do indivíduo, quanto da espécie. Ainda que a capacidade de transformar o mundo esteja distorcida na sociedade irracional de hoje, ela é um dom natural e um produto da evolução biológica humana — não só um produto da tecnologia, da racionalidade e da civilização. O fato de pessoas que se dizem anarquistas defenderem um primitivismo que beira o animalesco, com sua mal-disfarçada mensagem de adaptação e de passividade, é uma vergonha diante de séculos de pensamento, práticas e ideais revolucionários; isso difama as memoráveis tentativas da humanidade de se libertar do provincianismo, do misticismo, da superstição, visando transformar o mundo.
Para esses anarquistas de estilo de vida, em especial os anticivilização e primitivistas, a própria história torna-se um monólito degradante, que suprime todas as distinções, mediações, fases de desenvolvimento e especificidades sociais. O capitalismo e suas contradições são reduzidos a epifenômenos de uma civilização devoradora, com seus “imperativos” tecnológicos sem qualquer nuance e diferenciação. A história, se considerada como o desenrolar do componente racional da humanidade — o desenvolvimento de sua capacidade de liberdade, de autoconsciência e de cooperação —, é um relato complexo do cultivo das sensibilidades humanas, de suas instituições, de sua intelectualidade e do conhecimento daquilo que vem se chamando de “educação da humanidade”. Tratar a história como um permanente “desmoronamento” a partir de uma animalesca “autenticidade” — como Zerzan, Bradford e sua turma fazem de modo muito semelhante a Martin Heidegger — é ignorar os ideais expansivos de liberdade, de individualidade e de autoconsciência, que marcaram as épocas do desenvolvimento humano — sem falar na ampliação das lutas revolucionárias para alcançar esses fins.
O anarquismo de estilo de vida anticivilização é apenas um aspecto da regressão social que marca as últimas décadas do século XX. Assim como o capitalismo ameaça refazer a história natural, ao trazer de volta uma era geológica e zoologicamente mais simples e menos diferenciada, o anarquismo de estilo de vida anticivilização é cúmplice do capitalismo, ao trazer o espírito humano e sua história de volta a um mundo menos desenvolvido, menos determinado e edênico — a sociedade pré-tecnológica e pré-civilizatória supostamente “inocente”, a qual existiu antes que a humanidade “perdesse a graça”. Como os lotófagos da Odisseia de Homero, os humanos “autênticos” eram aqueles que viviam no eterno presente, sem passado ou futuro — sem o incômodo da memória ou da ideação, livres da tradição e não desafiados pelo porvir.
Ironicamente, o mundo idealizado pelos primitivistas impediria o individualismo radical celebrado pelos individualistas herdeiros de Max Stirner. Ainda que as comunidades “primais” contemporâneas tenham produzido indivíduos de traços marcantes, o poder do costume e o alto grau de solidariedade grupal impelido pelas difíceis condições dão pouca margem para comportamentos excessivamente individualistas, do tipo defendido por anarquistas stirnerianos que celebram a supremacia do ego. Hoje em dia, interessar-se pelo primitivismo é justamente o privilégio da urbanidade próspera, que permite brincar com as fantasias negadas aos pobres, famintos e “nômades”, que por necessidade moram nas ruas das cidades, e também aos empregados que trabalham demais. Mulheres modernas que trabalham e têm filhos dificilmente conseguiriam passar sem o alívio, ainda que mínimo, das máquinas de lavar roupa, em sua rotina de afazeres domésticos — juntamente com o trabalho que, muitas vezes, é responsável pela maior parte da renda da casa. Ironicamente, até o coletivo que faz a Fifth State descobriu que não poderia ficar sem um computador e foi “forçado” a comprar um — publicando um texto de repúdio não muito sincero que dizia: “Odiamos isso!” [79] Denunciar uma tecnologia avançada e utilizá-la para produzir literatura antitecnológica é pouco sincero e demonstra hipocrisia. Tamanho ódio dos computadores parece um capricho de privilegiados que, empanturrados de doces caros, exaltam as virtudes da pobreza nas orações de domingo.
***
[52] Qualquer um que nos aconselhe, de modo significativo, e até drástico, a reduzir o uso de tecnologia está aconselhando também, pela lógica, a voltarmos à “Idade da Pedra” — pelo menos até o Neolítico ou o Paleolítico (Inferior, Médio ou Superior). Em resposta ao argumento de que não podemos voltar ao “mundo primal”, Bradford não ataca o argumento, mas quem o criou: “Engenheiros de corporações e críticos de esquerda do capitalismo ou sindicalistas” descartam “qualquer outra perspectiva de dominação tecnológica, [… ] colocando-as como ‘regressivas’ e como um desejo ‘tecnofóbico’ de voltar à Idade da Pedra”, coloca ele (CIB, nota 3). Deixarei de lado a falácia de que favorecer o avanço tecnológico em si implica favorecer o aumento da “dominação”, provavelmente de pessoas e da natureza não humana. “Engenheiros de corporações e críticos de esquerda do capitalismo ou sindicalistas” não têm, de maneira alguma, a mesma visão sobre a tecnologia e sua utilização. Tendo em vista que “críticos de esquerda do capitalismo ou sindicalistas” estão envolvidos em uma séria oposição de classe ao capitalismo, seu fracasso, hoje em dia, na criação de um movimento amplo de trabalhadores é algo trágico, que deve ser lamentado e não motivo de comemoração.
[53] George Bradford. “Civilization in Bulk”. In: The Fifth Estate, p. 10.
[54] O texto das conferências foi publicado em: Richard B. Lee e Irven DeVore (orgs.). Man the Hunter. Chicago: Aldine Publishing Co., 1968
[55] “What Hunters Do for a Living, or, How to Make Out in Scarce Resources”. In: Lee e DeVore. Op. cit., p. 43.
[56] Ver, especialmente: Paul Radin. The World of Primitive Men. Nova York: Grove Press, 1953, pp. 139–50.
[57] John Zerzan. Future Primitive and Other Essays. Nova York: Autonomedia, 1994, p. 16. O leitor que confiar na pesquisa de Zerzan pode procurar fontes importantes como “Cohn (1974)” e “Clark (1979)” (Cf. as páginas 24 e 29) em sua bibliografia — na qual nenhum deles consta.
[58] Ibidem, pp. 23–24
[59] Ibidem, pp. 27–28, grifos meus.
[60] A literatura sobre esses aspectos da vida pré-histórica é vasta. Anthony Legge e Peter A. Rowly (“Gazelle Killing in Stone Age Syria”. In: Scientific American, vol. 257, 1987, pp. 88–95) mostram que animais migratórios podem ter sido dizimados com o poder devastador e efetivo do uso de currais. O estudo clássico dos aspectos pragmáticos do animismo é: Bronislaw Malinowski. Myth, Science and Religion. Garden City: Doubleday, 1954. A antropomorfização manipulativa é evidente nos muitos relatos de transmigração do domínio humano para o não humano, alegada pelos xamãs, como nos mitos makuna relatados em: Kaj Arhem. “Dance of the Water People”. In: Natural History, janeiro de 1992.
[61] Sobre os pigmeus, ver: Colin M. Turnbull. The Forest People: A Study of the Pigmies of the Congo. Nova York: Clarion/Simon and Schuster, 1961, pp. 101–102. Sobre os esquimós, ver: Gontran de Montaigne Poncin. Kabloona: A White Man in the Arctic Among the Eskimos. Nova York: Reynal & Hitchcock, 1941, pp. 208–209, assim como muitas outras obras sobre a cultura tradicional esquimó.
[62] A hipótese de que muitas pastagens do mundo foram feitas com o fogo, provavelmente desde o Homo erectus, está difundida na literatura antropológica. Um excelente estudo é: Stephen J. Pyne. Fire in America. Princeton: Princeton University Press, 1982. Cf. também: William M. Denevan. In: Annals of the American Association of Geographers, setembro de 1992. Cf. William K. Stevens. “An Eden in Ancient America? Not Really”. In: The New York Times, 30 de março de 1993, p. c1.
[63] Sobre o acalorado debate sobre as “matanças”, ver: P. S. Martin e H. E. Wright Jr. (orgs.). Pleistocene Extinctions: The Search for a Cause. New Haven: Yale University Press, 1967. Os argumentos da discussão sobre os fatores climáticos e/ou as matanças humanas terem levado às extinções massivas de cerca de 35 gêneros de mamíferos do Pleistoceno são complexos demais para serem expostos aqui. Ver: P. S. Martin. “Prehistoric Overkill”. In: P. S. Martin e H. E. . Wright Jr. (orgs.). Op. cit. Tratei de alguns desses argumentos em: Murray Bookchin. “Introduction”. In: The Ecology of Freedom. Montreal: Black Rose Books, 1991. As provas ainda estão sendo debatidas. Mastodontes, que já foram considerados animais de ambiente restrito, hoje se sabe, foram ecologicamente muito mais flexíveis e podem até ter sido mortos por paleoíndios caçadores, provavelmente com muito menos pena do que os ambientalistas românticos gostariam de acreditar. Não defendo que apenas a caça teria levado esses grandes mamíferos à extinção — mas uma quantidade considerável de mortes deve-se a isso. Um resumo dos deslocamentos de bisões por arroios pode ser consultado em: Brian Fagan. “Bison Hunters of the Northern Plains”. In: Archaeology, maio–junho de 1994, p. 38.
[64] Karl W. Butzer. “No Eden in the New World”. In: Nature, vol. 82, 4 de março de 1993, pp. 15–17.
[65] T. Patrick Cuthbert. “The Collapse of Classic Maya Civilization”. In: Norman Yoffee e George L. Cogwill (orgs.). The Collapse of Ancient States and Civilizations. Tucson: University of Arizona Press, 1988 /Joseph A. Tainter. The Collapse of Complex Societies. Cambridge: Cambridge University Press, 1988, capítulo 5
[66] É estranho que me digam outra vez — agora é L. Susan Brown — que minha “evidência de sociedades ‘orgânicas’ sem nenhuma hierarquia permanece em questão” (grifos meus, p. 160). Se Marjorie Cohen, que Brown cita como exemplo, acha “pouco convincente” dizer que “a simetria sexual e a igualdade plena” podem ser demonstradas consistentemente, com base em “evidências antropológicas” reais, ou que “a divisão do trabalho de acordo com o sexo” não é necessariamente “compatível com a igualdade sexual plena” — tudo o que posso dizer é: pois bem! Eles já não estão aqui para nos falar sobre isso, muito menos para nos dar evidências “convincentes” de qualquer coisa. O mesmo pode ser dito das relações de gênero, conforme sugeri em The Ecology of Freedom. Na verdade, todas as “evidências antropológicas” contemporâneas em relação à “simetria sexual” são discutíveis, pois os aborígines modernos, para o bem ou para o mal, foram condicionados pelas culturas europeias, muito antes de os modernos antropólogos terem contato com eles. O que tentei expor nesse livro é uma dialética da igualdade e da desigualdade dos gêneros, não um relato definitivo da pré-história — cujo conhecimento perdeu-se para sempre, tanto para Brown e Cohen, quanto para mim. Utilizo dados modernos em termos especulativos: para mostrar que minhas conclusões são razoáveis, coisa que Brown descarta intempestivamente em duas frases, sem embasar-se em dado algum. Quanto à referência de Brown à minha falta de “evidências” sobre o modo como surgiram as hierarquias, materiais recentes sobre a Mesoamérica, posteriores à decifração dos pictogramas maias, sustentam minha reconstrução do surgimento da hierarquia. Por fim, quanto à gerontocracia, cuja precedência eu enfatizo como sendo provavelmente uma das primeiras formas de hierarquia, trata-se de um dos desenvolvimentos hierárquicos mais comuns descritos pela literatura antropológica.
[67] Clifford Geertz. “Life on the Edge”. In: The New York Review of Books, 7 de abril de 1994, p. 3.
[68] Alce Negro, índio sioux, em lakota, Hehaka Sapa, 1863–1950. [N. do T.]
[69] Como aponta William Powers, o livro “Black Elk Speaks foi publicado em 1932. Não há nele qualquer sinal da vida cristã de Black Elk”. Para um completo desmascaramento do atual fascínio com a história de Black Elk, ver: William Powers. “When Black Elk Speaks, Everybody Listens”. In: Social Text, vol. 8, núm. 2, 1991, pp. 43–56.
[70] Edwin N. Wilmsen. Land Filled With Flies. Chicago: University of Chicago Press, 1989, p. 127.
[71] Edwin N. Wilmsen. Op. cit., p. 3.
[72] Ally Maclean Stearman. Yuquí: Forest Nomads in a Changing World. Fort Worth / Chicago: Holt, Rinehart and Winston, 1989, p. 23
[73] Ibidem, pp. 80–81.
[74] Edwin N. Wilmsen. Op. cit., pp. 235–239 e 303–15
[75] Para estatísticas impressionantes, ver: Corine Shear Wood. Human Sickness and Health: A Biocultural View. Palo Alto: Mayfield Publishing Co. , 1979, pp. 17–23. Os Neandertais — que, longe de serem “malignos” como gostaria Zerzan, vêm recebendo uma cobertura maravilhosa por parte da imprensa atualmente — são generosamente tratados em: Cristopher Stringer e Clive Gamble. In Search of the Neanderthals. Nova York: Thames and Hudson, 1993. Contudo, os autores concluem: “O alto índice de doenças degenerativas nos joelhos, entre os Neandertais, talvez não seja uma surpresa, diante do que sabemos sobre suas duras vidas, sobre o cansaço e os excessos a que seus corpos eram submetidos. Mas a prevalência de lesões graves é ainda mais surpreendente, e indica como era perigoso viver,mesmo para os que não chegavam à ‘velhice’ nas sociedades neandertais” (pp. 94–95). Alguns indivíduos pré-históricos sem dúvida chegaram aos setenta anos, como os coletores que ocuparam os pântanos da Flórida há cerca de 80 mil anos, mas são raras exceções. Somente um primitivista empedernido se agarraria a essas exceções e faria delas uma regra. Ah, sim — as condições são terríveis para a maioria das pessoas na civilização. Mas quem está dizendo que a civilização é conhecida pela alegria geral, pelos banquetes e pelo amor?
[76] Ver, por exemplo: Robert J. Blumenschine e John A. Cavallo. “Scavenging and Human Evolution”. Scientific American, outubro de 1992, pp. 90– 96.
[77] Paul A. Janssens. Paleopathology: Diseases and Injuries of Prehistoric Man. Londres: John Baker, 1970.
[78] Corine Shear Wood. Op. cit., p. 20
[79] E. B. Maple. “Fifth Estate Enters the 20th Century. We Get a Computer and Hate It!”. The Fifth Estate, vol. 28, núm. 2, 1993, pp. 6–7.