Ba Jin. “Como Construir uma Sociedade de Liberdade e Igualdade Genuínas”

Como Construir uma Sociedade de Liberdade e Igualdade Genuínas

Ba Jin

 

Nestes dias a “liberdade” e “igualdade” se converteram nas palavras prediletas de certas pessoas. Se lhes pergunta o que quer dizer liberdade, responderão: “a liberdade corresponde a liberdade de palavra, imprensa, associação e correspondência”. Se lhes pergunta o que quer dizer igualdade, responderão: “todo cidadão é igual diante a lei, sem discriminação alguma”. Entretanto, isto não é nem uma genuína liberdade nem igualdade. Se está em desacordo com o que afirmo, lhe rogo que escute minhas palavras.

O obstáculo para a liberdade do povo é o governo. Desde o nascimento do governo, o povo perdeu sua liberdade completamente, e são controlados por este. Queremos o amor recíproco entre os irmãos e irmãs de todo o mundo, mas os governos nos forçam ao patriotismo, a nos converter em soldados que assassinem seus compatriotas do mundo. Ainda na mesma China esta situação é terrível, e os chineses assassinam outros chineses. Nestes anos, nas províncias de Hunan, Shanxi e de Sichuán, correm rios de sangue e os cadáveres se empilham como montanhas. Semelhante miséria atroz é precisamente o benefício que recebemos do governo.

Os capitalistas monopolizam a propriedade comum que pertence a todo o mundo, e os pobres perdem os meios para sua subsistência. Em vez de castigar esses capitalistas, o governo os protege mediante as leis. O povo, que carece de posses, deve recorrer ao roubo afim de poder sobreviver. Em realidade são forçados a isto pelos capitalistas, mas o governo lhes chama de ladrões e os fuzila. Não é que justifiquemos o roubo, mas que queremos recuperar algumas de nossas posses confiscadas. Porque nós merecemos ser fuzilados quando aqueles capitalistas que roubam os bens comuns de todo o mundo lhes é permitido uma vida cômoda? Se o povo não recorre ao roubo, então somente lhes resta mendigar. Às vezes, o governo e os capitalistas demonstram sua benevolência, e entregam ao pobre uma ínfima quantidade de dinheiro que lhe roubaram, e chamam este ato com o grandiloquente termo de filantropia. E falsamente nos acusam de desfrutar mais a mendicidade que o trabalho. Leitores! Não queremos trabalhar? Mas a verdade é que não nos dão oportunidades de trabalho e logo abusam de nós. Então a assim chamada liberdade e igualdade que mencionamos, não tem, ao se assemelhar, nada a ver com o povo! É isto a genuína liberdade e igualdade? Não o creio. Que é então, a genuína liberdade e igualdade? Creio que só o anarquismo significa uma genuína liberdade e que o comunismo significa uma genuína igualdade. A única maneira de construir uma sociedade de uma genuína liberdade e igualdade é a revolução social.

O que é o anarquismo? O anarquismo propõe que o governo e todos os seus organismos dependentes sejam abolidos, e que todos os meios de produção pertençam ao conjunto do povo. De cada qual segundo suas capacidades, a cada qual segundo suas necessidades. Que cada qual desempenhe aquelas tarefas que se ajustem melhor as suas capacidades. Alguns serão doutores, alguns serão mineiros. Os trabalhos mais pesados terão menos horas de trabalho, enquanto que os mais fáceis terão mais horas. A comida, a vestimenta e a moradia serão fornecidas por certas instituições. Todos terão igual educação, sem distinções. Um anarquista francês disse “se todos trabalhassem duas horas diárias, as necessidades de todo o mundo se veriam cobertas”. Kropotkin também disse: “Se todos os trabalhassem quatro horas, haveria tempo de sobra para satisfazer as necessidades de toda a sociedade”. Creio que ninguém estará indisposto a trabalhar tão poucas horas.

Sem as leis da política haverá uma genuína liberdade; sem capitalistas, haverá uma genuína igualdade.

Meus amigos trabalhadores! Por favor, imaginem a liberdade e a igualdade em uma sociedade sem os poderes autoritários! Querem tal sociedade? Se assim o querem, há que livrar a revolução social e derrotar os pérfidos políticos. A sociedade da liberdade e igualdade somente então será uma realidade. Unam-se imediatamente com todos os seus amigos! Se continuam tolerando seus pesares, simplesmente estarão permitindo que lhes convertam em carne para o matadouro dos capitalistas! Creiam-me!

1º de abril de 1921

Original: Semi [revista mensal], nº 17.
Tradução: Rafael V. da Silva

Traduzido da versão em espanhol intitulada Problemas del Anarquismo y la Revolución en China.